sábado, 20 de abril de 2013

Eu tenho medo de ser quem eu sou.
Há um silêncio total dentro de mim. Assusto-me. Como explicar
que esse silêncio é aquele que chamo de o Desconhecido. Tenho medo Dele. Não porque pudesse Ele infantilmente me castigar (castigo é coisa de homens). É um medo que vem do que me ultrapassa. E que é eu também. Porque é grande a minha grandeza. Não vivo perigosamente em fatos. Vivo em extremo perigo quando sozinho caio em profunda meditação. É quando perigosamente fico isento até de Deus. E isento até de mim. À beira de um precipício abismado no seco alto de um penhasco. E como coisa vive junto a mim — apenas o cacto com coroa de espinhos de uma natureza que me abandonou. Estou só de mim.Eu vivia me perdendo dentro de mim. Tenho que ter paciência de santo. Eu sou um homem que escolheu o silêncio. Tive que amar a um ser
puro. Ah, melancolia de ter sido criado. Antes tivesse eu permanecido na imanescência da natureza. Ah, sabedoria divina que me faz mover-me sem que eu saiba para que servem as pernas. Será que Deus sabe que existe? Acho que Deus não sabe que existe. Tenho quase a certeza de que não. E daí vem a sua veemente força. Hoje chorei muito e meus olhos ficaram inchados e vermelhos. Mas valeu a pena. Nem me pergunto porque chorei. O pior é que sou vice-versa e em ziguezague. Sou inconcludente. Mas é preciso me amar como involuntariamente sou. Apenas me responsabilizo pelo que há de voluntário em mim e que é muito pouco. Eu não entendo, portanto acredito. Eu acredito "em quê".
Sabe o que é Deus? Deus é o tempo. Eu mal faço parte desse
itinerário para o Nada.
Um Sopro de Vida – Pulsações